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A ciência do cuidado afetivo

Foto do escritor: CUIDADO criançasCUIDADO crianças

Qualquer que seja a “técnica” adotada no cuidado às crianças, é indispensável que ela seja fundamentada em teorias reconhecidas e evidências científicas. E hoje é mais fácil diferenciar o que são modismos, lançados regularmente pelo mercado de coaches, cursos e guias de “soluções práticas”, e o que são conhecimentos validados pela experiência clínica sistematizada ao longo de décadas, por estudos e novas tecnologias que corroboram seus efeitos na própria fisiologia infantil.


A diferença entre as dicas de influencers-especialistas, que oferecem treinamento de comportamentos, e o conhecimento que lastreia atitudes parentais estruturadas pode ser notada em muitos aspectos, inclusive nos resultados. É comum agora a figura dos pais que já tentaram de tudo e continuam sofrendo com os problemas que persistem ― e até mesmo se agravam ― nos filhos. De fato, não basta tratar dos sintomas sem tratar das suas causas.


Muitas das soluções vendidas no mercado da parentalidade estão mais para analgésicos e anestésicos desenhados para a conveniência e o conforto de pais consumidores. Quando têm alguma base teórico-científica, ela está relacionada ao controle de “desvios”. Algumas são versões empobrecidas de teorias interessantes, transformadas em produtos que se vendem bem, mas que podem gerar o efeito oposto ao desejado.


Confusão


Além de frustrados, muitos pais ficam confusos com a proliferação de especialistas e técnicas para criar-filhos-sem-estresse. A confusão provoca paralisia ou, frequentemente, uma acomodação mórbida às práticas arbitrárias. Afinal, sempre tem uma frase de coach/influencer pra justificar porque você lida com a birra das crianças de um jeito ou de outro, de acordo com o seu humor. Esta constatação foi feita em estudos, entre os quais o que relaciona as funções parentais e o comportamento de crianças na Educação Infantil.


Nesse estudo foi feita uma análise comparativa entre um grupo (A) de crianças com comportamentos frequentes de agressividade, teimosia e/ou agitação e um grupo (B) de crianças sem essas características, assim como os grupos de seus respectivos pais e mães. A primeira conclusão a destacar é que as crianças do grupo A tinham mães e pais confusos e frágeis em suas funções parentais, enquanto as do grupo B tinham mães e pais mais seguros e coerentes, com funções parentais sustentadas em conhecimentos, valores e princípios.



O estudo, que tem nosso livro Prepare as crianças para o mundo nas referências bibliográficas, cumpre justamente a função científica de verificar a teoria com evidências empíricas. Neste caso, mais uma vez demonstra-se o benefício dos pais capazes de cuidar afetivamente, dando limites e acolhimento para que suas crianças possam processar seus sentimentos. Portanto, a base teórico-científica que falta a muitas técnicas de parentalidade hoje no mercado, aparece claramente na nossa ideia do cuidado afetivo.


A pesquisa constata, também, que a qualidade da função parental no grupo B, das famílias de crianças sem problemas, não estava relacionada a alguma técnica ou abordagem específicas. O que conta é, acima de tudo, uma aliança entre mãe & pai sustentando atitudes coerentes e fundamentadas, o contrário das divergências e decisões de conveniência comuns entre os casais do grupo A. Nesse ponto o artigo adota uma expressão do nosso livro (p.293): o que mais importa é que a família tenha uma cultura própria.


A cultura familiar é um conjunto de valores e princípios que orientam adultos e crianças. Não tem a ver com tradição, e muito menos com o moralismo e o autoritarismo do passado. Pode ser construída e atualizada a partir dos conhecimentos que a ciência traz. É em seu nome que são impostos os limites. Essa cultura é a referência que não precisa variar de acordo com a moda e, portanto, é ela que protege os pais da confusão e das práticas arbitrárias, dando segurança e tranquilidade às crianças.


David Moisés e Angela Minatti



Livro Prepare as Crianças para o Mundo



Leia também no livro:

O que as tragédias ensinam .......... p.291



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