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A fragilidade emocional das crianças ― em números

Foto do escritor: CUIDADO criançasCUIDADO crianças

Atualizado: 20 de abr. de 2024

A gente ouve falar que as crianças andam mais ansiosas, deprimidas, hiperativas e agressivas hoje em dia. Por um lado, faz sentido pensar assim quando se vê o que acontece nas escolas; por outro, é preciso ter cuidado com os diagnósticos que tentam enquadrar comportamentos dos pequenos num rol de sintomas de “doenças” a serem tratadas ― geralmente com medicamentos.


Dito isso, vale dar uma olhada nas estatísticas de “transtornos psiquiátricos”, como fez o grupo de pesquisadores liderado por Christian Kieling, com dados de 159 países, referentes ao ano de 2019. Pela primeira vez foram coletados dados de crianças, na faixa de 5 a 9 anos:



Além desses números, é preciso acrescentar que 6,8% das crianças na faixa dos 5 aos 9 anos foram diagnosticadas com ao menos um transtorno, enquanto na faixa dos 10 aos 14 anos foram 12,4%. Portanto, entre o final da infância e o início da adolescência registra-se um salto de ocorrências que não se vê em nenhuma outra fase da vida.


Nos gráficos acima, chama atenção que os diagnósticos de ansiedade dobram nessa passagem, enquanto os de depressão têm um aumento menos acentuado. A “hiperatividade” (TDAH) tem o mais alto índice de incidência entre os meninos na infância, e os “transtornos de conduta” dão salto semelhante ao da ansiedade.


Filtro antipatologização


Os números quantificam, sem dúvida, a sensação que temos sobre as crianças: parece que elas estão emocionalmente mais frágeis hoje em dia. E é bom que a gente possa enxergar o problema por vários ângulos, para lançar mão das mais adequadas estratégias e ferramentas para lidar com ele.


Justamente por isso é preciso aplicar nessa leitura um filtro antipatologização que permita olhar criticamente os diagnósticos, sem engolir a ideia de que tudo agora pode ser enquadrado como depressão ou hiperatividade.


Os próprios autores desse estudo lembram que, há mais de uma década, a medicina e a psicologia “deixaram de entender os transtornos mentais apenas como problemas da mente ou de comportamento e passaram a considerá-los também como doenças do cérebro”. Faltou dizer que essa onda foi embalada pela indústria farmacêutica, que fatura desvairadamente com ritalinas e outras smart drugs.


Sentimentos brutos


É importante considerar que a angústia, a tristeza, o luto e outros sentimentos desagradáveis não são doenças. Ao contrário, são manifestações de saúde que precisam ser acolhidas e sustentadas com vários cuidados ― que o adulto pode aprender a oferecer ―, dando à criança as condições para lidar com elas e crescer emocionalmente. Chama atenção que, no estudo, o diagnóstico de depressão está relacionado a situações como o luto, mesmo a um “episódio único desencadeado pela morte de um parente”.


O transtorno de conduta, por sua vez, é descrito como “postura desafiadora, antissocial e mais agressiva”. Sério?! Dá medo pensar que as crianças são “acalmadas” à base de drogas quando estão tentando arduamente lapidar seus sentimentos brutos ― e requerem atitudes específicas dos adultos. Quanto ao TDAH, há muito seu diagnóstico é tema controverso.


Não se pode esperar que diagnósticos mais precisos venham a alimentar as estatísticas no futuro ― não enquanto as farmacêuticas tomam o lugar dos cuidadores de crianças. Então é preciso lucidez para reconhecer o grande desafio de lidar com a fragilidade emocional do nosso tempo sem, contudo, entrar na onda das drogas, que só aprofunda essa fragilidade.


David Moisés e Angela Minatti



Livro Prepare as Crianças para o Mundo



Leia também no livro:

Mas que bagunça é essa?! .......... p.352



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