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Querido Papai, bem-vindo ao mundo da criação

Foto do escritor: CUIDADO criançasCUIDADO crianças

A gente sabe que você, genitor masculino, se sente despreparado e inseguro pra enfrentar o desafio de criar gente. É o que dizem os pesquisadores que começaram a estudar como os homens brasileiros exercem a paternidade e como eles se sentem na lida com suas crianças. Nem sempre é mau costume ou má vontade o que os impede de mergulhar no mundo encantado das fraldas & papinhas. Muitos querem assumir seu lugar de cuidadores, mas tropeçam nesses sentimentos.


Há uma boa pressão sobre os homens para abandonarem aquela postura do provedor distante e se envolverem efetivamente na rotina com os filhos ― tanto quanto as mulheres provedoras e cuidadoras. Mas há também uma mudança cultural em curso, que traz aos pais uma vontade genuína de se envolverem afetivamente no cuidado às crianças. Daí vem a questão das capacidades masculinas.


Um estudo conduzido no Rio de Janeiro informa que o pai, diante das tarefas com os pequenos, acha que não sabe fazer o que é preciso, que fará errado, e que a mãe (mulher) fará o certo, muito melhor que ele. Cá pra nós, pode haver uma dose de malandragem nessa postura de inferioridade, pois vira justificativa pra deixar a parceira com os queijinhos e sessões de choro. É fato, porém, que as mulheres tendem a assumir o domínio da maternagem, algo natural ― e necessário ― pela experiência corpórea e emocional de gestar, parir e criar, coisa que os rapazes nem imaginam o que seja.


Além disso, meninas são treinadas para cuidar, desde a casinha de bonecas, enquanto os meninos não têm essa matéria no currículo. Então, nesse ponto, uma solução para o despreparo e a insegurança dos homens seria desenvolver a capacidade de cuidar. Não é treinar com bonecas na infância, e sim brincar com todo tipo de brinquedo, incluindo casinhas e bonecas. Brincar de cuidar de plantas e bichos, dos amiguinhos, do quarto, do parque… Brincar de várias formas, livremente, naquele conjunto de experiências que permitem às crianças construir sua capacidade de afeto.


Mas isso serve para os papais do futuro. Para os do presente, há duas urgências. A primeira é compreender que não é fofo ser desajeitado pra dar banho no nenê e nem dá pra achar graça da inaptidão com as roupas da menina. São coisas relativamente simples de se aprender. A dama pode rir algumas vezes, mas depois a incompetência do cavalheiro começa a pesar na dupla ou tripla jornada que ela desempenha.



A outra urgência é reconhecer o lugar do homem como cuidador. E isso a mulher pode ajudar a resolver, abrindo mão do domínio absoluto, envolvendo o pai não apenas como ajudante obediente. Muitas vezes é mais simples decidir sozinha, fazer do seu jeito, mas isso vira uma armadilha para a própria mãe. Tem de dar espaço, chamá-lo, deixar o cara fazer algumas coisas do jeito dele, enfrentar junto com ele a decisão de dar o antitérmico ou continuar no banho morno pra segurar a febre do pequeno. Cuidar a dois é combinar o que e como fazer, com respeito mútuo.


Também é tarefa das instituições reconhecer o pai que cuida. As unidades de “Saúde Materno-Infantil” podem ter um nome que inclua os homens, ou devem ao menos ter mais de uma cadeira para pacientes nas consultas. Já escrevemos sobre como os homens têm alterações hormonais na gravidez das parceiras, como eles podem ter depressão pós-parto e como os serviços de saúde têm dificuldade de diagnosticar o seu sofrimento.


O modo como os homens são tratados nesses serviços contribui para que se sintam incompetentes e excluídos, como observa uma experiente gestora de saúde pública, Viviane Castello Branco. E isso precisa mudar, diz ela, com a capacitação das equipes de atendimento, com atividades educativas para mães e pais, com o reconhecimento das potencialidades e papéis dos homens, com sua inclusão no espaço e na agenda dos serviços.


É interessante notar que a sensação de incompetência para o cuidado acompanha os homens mesmo em grupos de pais que se mostram muito dedicados a suas crianças. Um estudo com professores, alunos e técnicos administrativos de uma universidade no Sul do Brasil mostrou que eles se sentem despreparados e apontam a necessidade de obter apoio emocional. Eles dão comida, dão banho, ralam na rotina com a molecada, e ainda assim se veem “sem conhecimento nem preparo”.


Bem, uma coisa é não saber fazer papinha ou limpar bumbum, outra coisa é não saber se está atendendo a “todas as necessidades” da criança. Afinal, quem sabe? Se o papai engajado diz “muitas vezes me pego no desespero e não sei o que fazer”, a mamãe pode dar-lhe as boas-vindas ao mundo da criação de gente, cheio de dúvidas e desafios. A única certeza nesse mundo é que o trabalho afetivo nessa área traz gratificação imediata e inesquecível, para mães, pais e filhos.


David Moisés e Angela Minatti



Livro Prepare as Crianças para o Mundo



Leia também no livro:

Pai para uma grande obra .......... p.315



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